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DIM (Miosite Idiopatica Disseminada) em Furões

Resumo da publicação Disseminated Idiopathic Myositis (DIM) In Ferrets By Katrina Ramsell Ph.D, DVM, AFA Health AffairsCommittee – 05/01/2019 – http://www.ferret.org

Material autorizado pela American Ferret Association para reprodução e adaptação para a língua Portuguesa. Todos os créditos reservados, não reproduzir sem autorização expressa do autor.

NOTA IMPORTANTE !

Este material é para referência apenas, sendo o médico veterinário com experiência em furões e conhecimento sobre a DIM o único profissional autorizado e capaz de indicar e aplicar qualquer tipo de tratamento, principalmente deste porte. Não sou médico veterinário ! Consulte sempre o seu vererinário de confiança e recomendo que pesquise a fonte desse artigo e eventualmente entre em contato com os pesquisadores.

Veterinários DEVEM fazer o download do artigo original e pesquisar as referências internas que constam no mesmo.

JÁ EXISTE UM PROTOCOLO PARA O TRATAMENTO DA DIM (AOS VETERINÁRIOS, LER NO FINAL DA POSTAGEM)

Link para o artigo original aqui

A DIM também é conhecida por Miofascite Idiopatica

É importante ler o artigo até o final para entender a complexidade do tema. Não leia superficialmente, pois a chance de tirar conclusões erradas será imensa.

Introdução:

É uma doença que afeta furões domésticos (Mustela putorius furo). A DIM é uma condição inflamatória severa que afeta principalmente os músculos e os tecidos conectivos vizinhos. Desde a identificação da doença em 2003, várias centenas de casos suspeitos foram posteriormente diagnosticados e confirmados.

Por muitos anos, a DIM foi considerada uma doença fatal em furões, mas atualmente existe um protocolo de tratamento razoavelmente efetivo e muitos furões sobreviveram e gozaram de vida longa e normal após o tratamento. Este protocolo está disponível no final desta postagem.

Histórico:

A DIM geralmente afeta furões entre 5 meses e 2 anos de idade, embora já tenha sido diagnosticada em animais com idade superior a 4 anos. Tanto machos quanto fêmeas são sucetíveis à DIM, sendo que os indivíduos castrados em idade muito nova tenham mais suscetibilidade, (NT: mas não quer dizer que seja uma doença comum nesse caso).

Aparentemente não existe correlação ambiental, relativa à dieta ou localização geográfica com a DIM. Quase a totalidade dos furões diagnosticados com DIM vieram de grandes criadores, mas alguns casos também vieram de criadores particulares (NT: o que pode ser apenas uma coincidência estatística pelo fato da maioria dos furões adquiridos em pet-shops serem provenientes de alguns poucos grandes criadores)

Foi feito um estudo baseado no histórico de vacinações, de muitos dos casos confirmados. Todo os casos confirmados tiveram pelo menos uma vacinação contra cinomose. Alguns receberam toda a série de vacinas contra a cinomose e alguns apenas uma única dose entre 4 e 7 semanas de vida no próprio grande criador. Note que muitos donos de furões acham que a vacina contra a cinomose é de dose única, mas a mesma deve ser aplicado um reforço anual, de vacina específica para furões.

É importantíssimo lembrar que a cinomose é quase 100% fatal em furões e que a recomendação deve ser feita anualmente, apesar do risco (baixo) de reações adversas. (NT: a cinomose causa uma morte dolorosa e muito sofrida)

Uma opção no caso de furões mais idosos e fazer regularmente o teste de anticorpos para a Cinomose (IgG/iGM). A presença de anticorpos IgM significa infecção aguda, recente, e a de IgG significa que foram produzidos anticorpos e imunidade. Então o esperado é que o IgG de reagente e o IgM de não reagente. Monitora-se a presença do IgG, se existirem, há proteção. Se não existirem, recomenda-se vacinar salvo contra indicação do médico veterinário.

Sinais Clínicos:

O aparecimento dos sinais clínicos da DIM geralmente é muito rápido, seguido de um declínio nas condições em um período de 12-48 horas. Os sinais são usualmente múltiplos com febre muito alta entre 40 e 42,2 graus Celcius, letargia e cansaço severos e desidratação nos estágios iniciais. A maioria dos furões nessas condições ficam apáticos mas totalmente conscientes do ambiente.

Outros sintomas observados na fase inicial são perda de apetite, gânglios linfáticos aumentados ou massas sob a pele e fezes anormais (podem ser de cor verde, escura, mucoide ou diarréia).

Eles podem recusar a comer reção, mas comerão comida pastosa (NT: daí a importância extrema da duck soup e das comidas enlatadas especiais para condições clínicas, comentadas nas postagens sobre alimentação e sobre falta de apetite).

Furões nessas condições tem alta sensibilidade nas costas e mostram sinais de dor quando tocados, e muitos podem apresentar taquicardia.

Podem apresentar também uma secreção limpa no nariz, respiração pesada, tosse, lacrimejamento ou secreções nos olhos, gengivas pálidas, dentes travados, convulsões e acúmulo de fluidos sob a pele. Alguns podem apresentar pequenos pontos cor de laranja na pele, peito e face.

Furões tratados com medicamentos não específicos ou não tratados adequadamente continuarão a decair até a morte ou até serem humanamente eutanasiados. (NT: É um sofrimento completamente inumano e desnecessário), mas atualmente com o novo protocolo muitos deles foram salvos e recuperaram-se da doença.

Resultados dos Exames:

Furões com DIM podem inicialmente ter a contagem de leucócitos normal, mas ela tende a aumentar durante a progressão da doença. Um número considerável de furões apresentam um aumento moderado nos neutrófilos maduros, ocasionalmente com deslocamento para a esquerda. A contagem geral de leucócitos na maioria dos casos de DIM é inferior a 50000/ul, sendo o intervalo normal de 2500 a 8000 leucócitos/ul. Algumas vezes leucócitos imaturos são encontrados, e os neutrófilos são de leve a moderadamente tóxicos para furões com DIM. Anemia de leve a moderada é frequentemente observada em furões com DIM.

As alterações plasmáticas mais comumente observadas incluem um leve aumento na glicose e uma diminuição nos níveis de albumina. Os parâmetros hepáticos geralmente são normais, exceto a ALT que pode apresentar valores moderados. Curiosamente a creatina c-reativa (uma enzima muscular) , a qual normalmente apresentaria-se elevada nos casos de inflamações severas nos músculos NÃO é elevada em furões com DIM. Suspeita-se que embora haja severa inflamação muscular a necrose muscular seja mínima.

Radiografias e ultra-sonografias frequentemente mostram baço e/ou nódulos linfáticos aumentados, mas são achados não específicos.

Culturas bacterianas feitas a partir de vários tecidos afetados em furões com DIM dão resultados negativos.

Interessantemente, o pH da urina é mais elevado na faixa de 7 a 8, sendo os valores normais entre 5.5 e 6.5.

Resultados de Biópsias e Autópsias:

As biópcias dos nódulos linfáticos e músculos de furões com DIM revelam inflamação severa generalizada, frequentemente com mudanças supurativas. A inflamação tem uma distribuição multifocal, portanto alguns furões com suspeita de DIM podem apresentar biópsia negativa nos músculos. Recomenda-se então a retirada de mais de uma pequena biópsia para exame, pois isso aumenta a chance de identificação da doença.

As autópsias de furões vítimas de DIM mostram inflamação severa dos tecidos musculares ( músculos esqueléticos, cardíaco e alguns músculos lisos ) sendo o esôfago particularmente atacado seguido de marcante atrofia do diafragma e dos músculos esqueléticos nos casos mais avançados.

Esta inflamação frequentemente estende-se pelo tecido adiposo circundante e atrofia muscular e fibrose podem ser observados em furões com doenças cronicas. Todos os tipos de grupos musculares parecem ser afetados pela DIM e os sinais clínicos observados são condizentes com uma situação de dor e atrofia.

Diagnóstico:

O diagnóstico presumido de DIM pode ser feito baseado nos sinais clínicos e comportamentais. O diagnóstico definitivo é melhor feito por biópsia de algum músculo externo. Entretanto alguns furões podem estar muito debilitados para serem submetidos a biópsia cirúrgica, ou quando os donos não tem condições financeiras para tal. Nesses casos, o diagnóstico presumido é o caminho.

Tratamento (resumo, por favor consulte o documento original completo em inglês)

Uma característica consistente da DIM é a falta de resposta ao tratamento e uma alta taxa de mortalidade (NT: especialmente se diagnosticada tardiamente).

Tratamentos com diversos antibióticos e outras medicações como glucocorticóides, corticoides não esteroides, antipiréticos, analgésicos , interferon e cliclosporina mostraram-se ineficazes no tratamento da DIM.

De acordo com estudos feitos a partir de 2006, envolvendo a combinação de predinisona, cloranfenicol e ciclofosfamida chegaram a conclusão que a droga chave no tratamento é a ciclofosfamida, uma droga quimioterápica.

A dose sugerida de ciclofosfamida é de 10 mg/kg no dia 1, dia 14 e então a cada 4 semanas por 3 meses (ou até a recuperação), com necessidade de acompanhamento clínico e exames, pois esta droga pode ter efeitos colaterais como toxicidade gastrointestinal, cistite hemorrágica e afetar a medula óssea.

A ciclofosfamida deve ser precedida de hidratação por via subcutanea para reduzir a chance de cistite hemorrágica. A ciclofosfamida geralmente é aplicada por injeção subcutâmea. Exames de sangue devem ser feitos antes da aplicação da ciclofosfamida

Cuidados de suporte:

Furões com DIM tem apetite reduzido, pois como o esofago é uma das estruturas mais afetadas pela inflamação, a deglutição torna-se difícil e dolorosa. Nesse caso, a duck soup e outras dietas pastosas são fundamentais e devem ser oferecidas por uma seringa, com muito cuidado.

Seu veterinário pode prescrever comidas enlatadas especiais (NT: A/D Hills Emergency Care por exemplo) pelo período necessário. A comida deve sempre ser misturada com um pouco de água, servida morna em pequenas porções várias vezes por dia. De maneira alguma ofereça nada que contenha ervilhas em qualquer forma nem alimentos de origem vegetal.

Hidratação subcutânea geralmente é necessária para evitar desidratação. Ofereça também água com um conta-gotas, diversas vezes por dia. O veterinário pode também indicar algum suplemento alimentar com ferro e vitaminas.

O protocolo novo opcional:

Ciclofosfamida:

  • Fazer a contagem de células sanguíneas
  • Fazer a aplicação da hidratação subcutanea e da ciclofosfamida 10mg/kg no dia 1, dia 14 e então a cada 2-4 semanas conforme a necessidade.

Predinisona:

  • 1mg/kg oralmente (solução não amarga) 1x/dia por 2-4 semanas, depois reduzir para 0.5 mg/kg por 2-4 semanas. Jamais cortar a predinisona abruptamente !

Antibióticos:

  • Para prevenir infecções secundárias. Opções são cloranfenicol e amoxicilina nas dosagens usuais para furões, de acordo com a escolha do veterinário.

Prognóstico:

O prognóstico para furões com DIM tratados adequadamente e em tempo hábil é relativamente bom, com muitos casos de recuperação total e sobrevida longa. Alguns furões diagnosticados muito tardiamente podem não responder ao tratamento. O diagnóstico correto e precoce é fundamental.

A DIM é uma doença rara, com diagnóstico difícil para quem não está familiarizado com ela.

Recomendações:

  • Casos de suspeita de DIM devem passar por exame clínico detalhado, testes de sangue completos, urianálise e preferencialmente radiografias ou tomografias.
  • Quando os sinais forem consistentes, se possível coletar material para biópsia
  • Se confirmada a DIM, entrar com o tratamento e com os cuidados suportivos.
  • A DIM é considerada fatal se não tratada

Sumário:

Referências:

  • A DIM é uma doença inflamatória severa que afeta os músculos
  • Pode ocorrer em machos e fêmeas igualmente e é mais comum em furões com menos de 18 meses de idade
  • A DIM tem características clinicas distintas que ajudam no diagnóstico mas os testes sanguíneos, biópsia e exames de imagem são a única maneira de diagnosticar com certeza absoluta.
  • A DIM é uma doença bastante rara e pode (não foi provado) estar associada a uma reação auto-imune a certas vacinas (NT: fala-se em vacinas para ferrets antigas e já fora de linha e em vacinas não específicas para ferrets, mas é ponto de debate), e levando-se em conta a alta prevalência da cinomose e a fatalidade de 100%, os furões devem continuar a serem vacinados contra a cinomose. A chance de um furão não vacinado contra a cinomose morrer dessa doença é milhares de vezes maior do que a de um furão vacinado desenvolver DIM.
  • A DIM era considerada 100% mortal, mas hoje existe um protocolo de tratamento bastante efetivo e muitos sobreviventes.
  1. Ramsell K, Garner MM Disseminated idiopathic myofasciitis in ferrets. Vet Clin Exot Anim (2010) 13(3): 561-575.
  2. Garner MM, Ramsell K, Schoemaker NJ, et al. Myofasciitis in the domestic ferret. Vet Pathol (2007) 44(1):25-38.

Veterinários ou donos de furões que tenham dúvidas ou preocupações sobre suspeitas ou casos confirmados de DIM podem contactar o Dr. Ramsell diretamente (em inglês):
* Email: nwexoticpetvet@hotmail.com

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